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SALA DE ESTUDOS

Renascimento – Classicismo – Humanismo

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Dada a invasão dos povos bárbaros e a desagregação do império romano, foram os mosteiros, as abadias, a Igreja Católica enfim, que recolheram os manuscritos, os multiplicaram por cópias, os comentaram mas quase sempre com o objetivo religioso e moral. As obras de Aristóteles, de Platão, de Cícero, de Vergílio e Horácio bem como de Sêneca foram profundamente estudadas e aproveitadas segundo as intenções filosófico-teológicas da época.

Se na esfera da filosofia e da teologia os gregos eram mais conhecidos e dos latinos Cícero e Vergílio fossem os mais acatados, na esfera dos literatos predominava, ao lado de Vergílio, o lírico Ovídio, cuja influência se fez sentir, não só na Idade Média, mas também no Renascimento. Não é, portanto, historicamente justo, afirmar-se que só no final do século XV e em todo o século XVI, novamente “se descobriu o mundo greco-latino”, havendo então verdadeiro renascer dos estudos clássicos. Não. Foram sempre conhecidos os seus principais autores, dando-se apenas um afervoramento em tais estudos, um entusiasmo maior por tais autores.

Passou muito tempo para que as obras greco-latinas não fossem estudadas com tanto ardor e imitadas na Idade Média, o espírito de combate ao paganismo que os primeiros séculos do Cristianismo procurou criar, preservando a pureza dos ensinamentos de Cristo em face das doutrinas pagãs contidas em tais obras. Isto, porém, não quer dizer que, em determinados círculos culturais, não fossem os autores clássicos lidos e estudados.

1) Críticas à Escolástica e os Goliardos

Ultrapassada a grande fase da Filosofia Escolástica, no final do século XIII, começaram as críticas aos exageros dos silogismos de que se valiam os escolásticos e às banalidades dos assuntos por eles explorados. O grande argumento, que dominou os derradeiros tempos desta escola filosófica, foi outro ponto ferozmente alvejado pelos críticos que desejavam maior apelo à razão. Dentro da multidão dos estudantes, todos dirigidos pelas Universidades religiosas, o espírito de crítica, que já aparecia nas esferas dos próprios filósofos, tomou o aspecto de sátira, toda ela vazada em versos latinos, espalhados por toda a Europa pelos Goliardos. Eram assim chamados porque, dentro do espírito satírico, faziam parte de um vasto agrupamento cujo patrono era Golias. Estas poesias sensuais, materialistas, cujos temas principais eram o vinho e o amor, levavam também críticas aos filósofos, aos teólogos, não poupando abades, bispos e arcebispos. Foram estas duas correntes, a primeira filosófica, e a segunda literária, que causaram o descrédito da escolástica e prepararam a volta ao paganismo greco-romano. O aumento dos manuscritos gregos, mas especialmente latinos, copiados e traduzidos, deu início ao grande movimento de curiosidade intelectual por conhecer, através dessas obras clássicas, o pensamento, a cultura e depois os próprios costumes dos pagãos. Destes conhecimentos, destes estudos, surgiram duas correntes: a intelectual ou artística, tomando-se, especialmente, Cícero, Vergílio, Horácio, como modelos de linguagem e de criação literária, decorrendo daqui a imitação da língua e do estilo de tais autores; a moral, procurando os autores da época, imitar os costumes, os hábitos, mas de modo especial as licenciosidades dos pagãos, vivendo puramente de ideais materialistas, epicuristas, sensuais. Contra a primeira corrente não houve da parte da Igreja Católica reação condenatória. Os Papas foram os que mais intensificaram a procura dos manuscritos gregos, pagando altas somas pela tradução dos mesmos. Contra, porém, a segunda corrente, a volta aos costumes do paganismo, a Igreja se tornou adversária e seguia nisto a tradição do cristianismo. Os ideais da vida pagã já tinham sido combatidos e destruídos por Cristo e seus sucessores, como poderia a Igreja aceitar a volta aos mesmos ? O trabalho de procura e de tradução passou a ser profissão rendosa e dignificante. Um grande grupo de homens de inteligência tomou a si esta tarefa, constituindo o que depois se chamou os Humanistas. Ao movimento intelectual e artístico se deu o nome de Humanismo. O fundamento etimológico destas duas palavras ( humanismo , humanistas ) estava em que as obras dos autores greco-latinos, lidando diretamente com seres humanos, procurando interpretá-los na poesia, no teatro, nos estudos filosóficos e morais, de que a Idade Média havia se afastado, estudando de preferência as relações entre o homem cristão e Deus, colocando-o portanto em esfera superior, recolocava o homem no seu plano meramente natural, não supranatural ou religioso.

OS HUMANISTAS

O gosto das letras gregas e mais acentuadamente das latinas, despertou, primeiramente, na Itália, e depois em quase toda a Europa, um sem-número de homens dedicados ao exame dos manuscritos clássicos, sobretudo, depois da invenção da imprensa que podia multiplicar as cópias, tornando-as de mais fácil aquisição e consulta. Estudaram, de modo especial, a língua, a métrica, o teatro. Eram os humanistas. Da Itália irradiou-se o movimento sob o nome de Renascimento porque, de fato, os ensinamentos de Cícero, de Quintiliano, a famosa Arte Poética de Horácio, passaram a reger os escritos, em prosa e verso, elevando-se o latim como o supremo modelo das línguas que iam se formando literariamente. Depois de Roma, Florença, Nápoles, outros centros se tornaram famosos como Lovaina e Basiléia. Não só os estrangeiros se dirigiam a estas cidades para a erudição clássica, mas também os humanistas lá radicados saíam contratados para Universidades e Cortes de outros países.

Todas as produções escritas deviam tomar feições latinas, incluindo-se a História, segundo os moldes de Tito Lívio; as comédias de acordo com Plauto e Terêncio; as tragédias dentro dos modelos gregos. Os gêneros literários foram ressuscitados, por exemplo, o bucolismo de Teócrito e Vergílio, o lirismo, mas especialmente a epopéia. O latim passou a ser não só o modelo, mas ainda a própria língua de muitos destes humanistas que se recusavam a falar e a ensinar em outro idioma qualquer. Clenardo, por exemplo, vindo de Lovaina para lecionar em Salamanca e depois na corte portuguesa, nunca falou espanhol ou português: sempre latim. O famoso Fabricius, humanista francês, trazido a Coimbra para reger a cadeira de grego. O mais que célebre Erasmo de Roterdã, solicitado por toda a Europa como o mais alto padrão de humanista, não nos deixou um bilhete sequer senão em latim. Ensinou através de suas cartas, de seus livros e polemizou com a França, com a Espanha, com a Itália e com a Alemanha de Lutero, unicamente, em latim.

Literariamente, o humanismo e os humanistas fizeram grande bem às línguas neolatinas que começavam a servir de instrumento às modernas literaturas. Mas filológicamente foram prejudiciais; o longo trabalho de evolução fonética já produzido pelas contínuas influências dos substratos lingüísticos locais sobre o latim, produzindo a dialetação desta língua e, portanto, dando origem às futuras expressões de cada povo. Houve um retrocesso prejudicial à normal evolução do latim nas suas ramificações. Em português, por exemplo, o latim ursus, fructus, silentium já haviam sido alterados, fonéticamente, em usso, fruito e seenço. Tais formas evolutivas foram postas de lado e retomadas as primitivas urso, fructo, silêncio.

HUMANISMO E HUMANISTAS EM PORTUGAL

Os primeiros contatos com o movimento da Itália e com as obras de seus três grandes humanistas: Dante d’Alighieri, Giovanni Boccaccio e Petrarca foram indiretos, através dos humanistas espanhóis. De Dante ficou apenas o simbolismo, isto é, o recurso das comparações como o inferno, o purgatório e o céu, a evocação de figuras, de pessoas já mortas que voltavam a relatar seus feitos, seus amores e sofrimentos. Pertencem a esta influência Infierno de Enamorados de Santillana ; Infierno de Amor de Garcí Sánchez, em espanhol ; Fingimento de Amores de Diogo Brandão ; Inês de Castro de Garcia de Resende. Há outros exemplos, tais como as poesias de Duarte de Brito que vai ao inferno onde vê as almas dos condenados por amor. Petrarca só muito mais tarde do que Dante, já na época áurea do classicismo português, nos dias de Camões, é que surge com a nota amorosa dos estados contraditórios segundo aparece nas poesias, nos sonetos camonianos.

As influências diretamente trazidas dos grandes centros humanísticos da Itália, da França e de Flandres, aparecem de modo imediato na prosa, nas crônicas e no ensino do grego, do latim.

DIVISÃO DA ESCOLA QUINHENTISTA

Existem dois grupos distintos e perfeitos: o grupo dos que marcaram a transição da época precedente a esta, poetas que seguiram ainda a inspiração popular e se serviram de métricas menores, da redondilha ou como então se dizia, poetas da medida velha: Gil Vicente, Cristóvão Falcão, Bernardim Ribeiro e outros. “Em oposição a estes os poetas clássicos, surgiram aqueles, que seguiam as regras do renascimento italiano: assuntos mitológicos, verso decassílabo, gêneros gregos”: Sá de Miranda, António Ferreira, Camões, etc. Alguns mais geniais compartilharam as duas escolas, como por exemplo, o grande Luís de Camões.

1 – POESIA DE INSPIRAÇÃO POPULAR

Bernardim Ribeiro

A maioria dos historiadores dá como tendo vivido entre 1482 e 1552. Supõe-se que tenha freqüentado a Universidade em Lisboa, tendo sido colega de Sá de Miranda, cuja amizade durou sempre. Por causa de amores impossíveis, provavelmente, despertados pela prima Joana Tavares Zagalo, teve de abandonar a corte e o país, vivendo algum tempo na Itália. Enquanto viveu na corte, fez umas onze composições de pequeno valor literário como foi toda a produção desse momento. Na Itália, conheceu certamente as obras de Sannazzaro de quem foi discípulo, trazendo para Portugal o bucolismo literário. Vivia então na casa de António Pereira, em Cabeceiras de Basto. A natureza desses sítios muito inspiram em seu bucolismo, gênero italiano desde Teócrito a Vergílio e desde Vergílio a Sannazzaro. Foi neste mesmo lugar que Bernardim começou a sua famosa novela inacabada, Menina e Moça, ou As Saudades, outro nome pelo qual alguns, intitulam essa obra em prosa do poeta.

Cristóvão de Sousa Falcão

Nasceu em Portalegre, no Alentejo, provavelmente, em 1518 e morreu, talvez, em 1557. Pouco se sabe de sua vida ao redor da qual existe muita lenda, por exemplo, a de seu casamento aos 14 anos com Maria Brandão que contava apenas 12. Quando os pais de Maria souberam do feito, colocaram a filha no convento de Lorvão de onde saiu para casar-se com Luís da Silva Meneses. Sobre este fato o poeta escreveu a sua famosa Égloga de Crisfal. Deixou ainda uma Carta na qual narra que esteve preso durante cinco anos.

A Égloga de Crisfal contém 900 versos, dispostos em estrofes de dez cada uma. É a “mais extensa e melhor poesia bucólica da literatura portuguesa e talvez de todas as literaturas modernas”.

2 – POESIA DE INSPIRAÇÃO ITALIANA

Sá de Miranda

Francisco de Sá de Miranda, filho de Gonçalo Mendes de Sá e Inês de Melo, nasceu em Coimbra a 28 de agosto de 1481 e faleceu, no retiro da Tapada, em 1558. Casou-se tardiamente com Briolanja de Azevedo. Freqüentou a Universidade então em Lisboa, formando-se em Direito. Chegou a ser desembargador do Paço, abandonando a corte por ser fechado e arredio, foi para a Itália onde permaneceu cinco anos. A vida na Itália colocou-o dentro das correntes renascentistas do momento. De volta a Portugal, demorou-se na Espanha onde conheceu Boscán, Garcilaso de la Vega que seguiam também as correntes modernas da Itália. Era natural que achasse a poesia portuguesa muito atrasada, de modo especialíssimo o teatro de Gil Vicente, de cunho popular, sem as receitas do teatro clássico predominante em outros países renascentistas. Lutou então por introduzir em Portugal as novidades da Itália: o soneto com acentuação nas sílabas pares; as églogas, a canção de Petrarca, os tercetos de Dante, a oitava rima de Policiano e Ariosto. Investindo contra o teatro de Gil Vicente, escreveu duas peças: Estrangeiros ( comédia ) e Vilhalpandos ( comédia ) em prosa, cujas representações redundaram em completo fracasso, pois, nem a corte, nem o povo estavam preparados para essa novidade, preferindo sempre as facécias de Gil Vicente. O soneto, em suas mãos, é, duro, mal feito, como aliás, quase toda a sua obra poética. Além de ter sido autor de poucas obras, escrevendo 33 sonetos, 20 em português e 13 em castelhano; 9 églogas, 8 cartas, 3 elegias, nunca teve ouvido educado. Sá de Miranda é um poeta que se lê com pouca satisfação.

Diogo Bernardes

Nasceu em Ponte da Barca, em 1530, falecendo em 1595. Pertence ao círculo literário de Sá de Miranda, cuja amizade cultivou. Foi indicado para acompanhar Dom Sebastião à África: faria um poema sobre o assunto, mas o revés de Alcácer-Quebir frustou-lhe os planos, levando-o a prisão de Marrocos. Resgatado, voltou a Portugal, estava bem informado do movimento literário renascentista da Itália, fazendo poesias à maneira de Petrarca, e seus sonetos, à maneira de Dante, em tercetos. Deixou-nos Elegias, Sonetos, Odes, Églogas que reuniu em Rimas Várias, Flores do Lima. Pertence ao ciclo renascentista português de que Camões foi o maior expoente. Há tanta semelhança entre os sonetos de Bernardes com os de Camões, que vários autores confunde-os. Eis um exemplo de sua poesia:

“À borda de um ribeiro que corria

Por meio de um florido e verde prado,

O triste pastor Délio, debruçado

Sobre um tronco de freixo, assim dizia:

Ah! Marília cruel! Quem te desvia

Esse cuidado teu do meu cuidado ?

Quem fez um coração desenganado

Amar coisa que tanto aborrecia ?

Que foi de aquela fé que tu me deste ?

Que foi de aquele amor que me mostraste ?

Como se mudou tudo tão asinha ?

Quando tua afeição noutro puseste,

Como te não lembrou que me juraste

Que não serias nunca senão minha ?

António Ferreira

Nasceu em Lisboa, em 1528, onde faleceu em 1569. Formado em direito canônico pela Universidade de Coimbra, conviveu com os mestres do renascimento italiano, vindo a ser o introdutor da tragédia clássica, ao modo grego, nas artes portuguesas. A sua versificação é áspera e imperfeita ainda que a sua linguagem seja correta e clássica. Deixou-nos a sua famosa tragédia Castro e mais ainda Bristo e Cioso. Escreveu também várias poesias menores tais como églogas, epitalâmios, odes e elegias.

Luís Vaz de Camões

Pensa-se que tenha nascido em Lisboa, em 1524 e falecido em 1580. Sepultado na igreja de Sant’Ana, os seus ossos desapareceram. Seus pais foram Simão Vaz de Camões e Ana de Macedo, ambos fidalgos. Educado em Coimbra, humanista como muito bem se revela em seu poema, nada pode conseguir na vida por causa do seu gênio ardente e dado a valentias. O seu grande valor suscitou sempre invejas e malquerenças, enchendo-lhe de amarguras a agitada vida que levou em Portugal, África e Ásia. Diz-se que amara loucamente a D. Catarina de Ataíde, filha do conde de Castanheira, segundo alguns; filha de D. António de Lima, segundo outros. José M. Rodrigues sustenta que a paixão máxima de Camões foi a Infanta Dona Maria, filha de Dom Manuel III. Dois sonetos do poeta celebram Catarina sob o anagrama Natércia. Entrou na corte em 1546, de 1547 a 1549 esteve na África como soldado, onde perdeu uma das vistas. Em 1552, foi preso em Portugal por ter ferido um homem da corte, Gonçalo Borges. Em 1553 parte para as Índias como soldado. Em 1558 foi para Macau como Procurador de Órfãos e Viúvas, Defuntos e Ausentes. Em 1558 naufragou nas costas de Anã ( foz do rio Mekongue – Vietnã do Sul ) salvando o manuscrito dos Lusiadas. Em 1567 foi para Moçambique. Em 1570 em Lisboa, pobre e doente, espera a publicação de sua epopéia. Em 1572 publicou Os Lusíadas. Após alguns anos de intensos sofrimentos e absoluto abandono, faleceu entre 1579 e 1580.

Obras: Camões, verdadeiro gênio literário, passou por todos os gêneros da literatura clássica, em todos fazendo valer o seu talento extraordinário. É o maior poeta épico da língua, escrevendo Os Lusíadas; como lírico ninguém o iguala nos Sonetos; escreveu ainda para o teatro: El-rei Seleuco e Filodemo.

Os Lusíadas

Assunto: Descobrimento do caminho das Índias.

Herói: Vasco da Gama

Forma: Poema clássico em 10 cantos. Estrofes ditas oitavas camonianas, mas, imitadas de Ariosto. Para este poeta, a oitava era a estrofe heróica por excelência. Versos decassílabos.

Caráter: Como toda obra do Renascimento, Os Lusíadas trazem nitidamente um caráter cristiano-pagão. Toda a mitologia greco-romana está misturada com os santos e as crenças do catolicismo. A influência da Eneida de Vergílio é clara em muitos pontos. Nisto tinha o exemplo dos poetas épicos italianos que fizeram ainda mais do que ele, como Dante, por exemplo.

Episódios interessantes: Na certeza de que muitos jamais lerão o poema, os principais episódios são:

1) O concílio dos deuses onde se decide da sorte dos portugueses protegidos por Vênus e atacados por Baco.

2) Os doze de Inglaterra.

3) A morte de Inês de Castro.

4) O gigante Adamastor.

Camões está para a língua portuguesa como Dante para a Italiana: é o fundamento, é quem lhe deu maleabilidade perfeita, elevando-a à maior perfeição expressiva, equiparando-a aos demais idiomas europeus. Ele foi quem deu o poema épico, à literatura portuguesa obra notabilíssima que não possuem os espanhóis nem os franceses, de cunho eminentemente nacional, o que não aconteceu a Mílton, a Klopstock e ao próprio Dante que se inspiraram em assuntos religiosos para poder compor suas obras.

Camões lírico

No lirismo da sua época, sob influência petrarquiana, não se distingue Camões de maneira extraordinária como se distinguiu na poesia épica. Era poeta ao modo do tempo e de tal jeito que muitas de suas composições líricas, sobretudo sonetos, passaram como sendo de outros poetas, exemplo de Diogo Bernardes. Nas redondilhas e églogas apenas se notam a profundeza de seus pensamentos e a excelente qualidade do idioma. Foi no lirismo que bem marcou o período de transição, servindo-se da velha escola de Bernardim Ribeiro, Gil Vicente, em suas redondilhas, canções, glosas, vilancetes, e do classicismo nos sonetos, nas églogas, observando os cânones do decassílabo italiano em substituição ao decassílabo lemusino de acentuação ímpar. O recurso das oposições e dos contrastes, ao modo de Petrarca, fez de seus sonetos amorosos verdadeiras obras-primas. Outra nota petrarquiana foi o do amor platônico, ardentemente desejado, mas não conseguido e daqui toda a melancolia das aspirações que não puderam ser realizadas. Todos os meios estilísticos de que, mais tarde, abusará o gongorismo: as antíteses, os trocadilhos, o jogo das mesmas palavras, mas em sentido diferente; as comparações e as metáforas estão elegantemente empregados pelo grande poeta, dentro da medida justa, sem os exageros que farão a ruína dos culteranistas sem talento. Pelo sentimentalismo destas composições líricas, precedeu Camões ao próprio romantismo, vazando em seus sonetos, odes e canções todo o seu delicado e melancólico subjetivismo. O bucolismo inaugurado por Bernardino Ribeiro continua em Camões que se emociona com os aspectos da natureza, da vida campestre. O bucolismo serve-lhe de contraste com a sua vida interior:

“Contente pasce o gado ao pé do monte,

Contente a beber vai na fonte fria.

………………………………………………………

Eu só, só pensativo, triste e mudo”.

 

( Égloga III )

“Caminha, o dia todo, o caminhante,

E, enfim, lhe chega a noite, em que descansa;

Trabalha na tormenta o navegante,

Traz-lhe a clara manhã feliz bonança;

Recobra o fruto fértil e abundante

Da terra o lavrador, se nela cansa;